AGRONEGÓCIO

Cenário econômico poderá ser promissor no campo

O Brasil tem o desafio de voltar a crescer. O Produto Interno Bruto (PIB), soma das riquezas produzidas no país, encerrou 2018 com crescimento de 1,1%, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A melhora do cenário em 2019 passa por reformas estruturantes – como a da Previdência e a Tributária –, além de implementação de medidas para destravar a economia e melhorar o ambiente de negócios. Mas as dificuldades para os empreendedores, em geral, e o cooperativismo, em particular, não param por aí.
É preciso preparo para conquistar um lugar ao sol na economia do século XXI, que sofreu profundas transformações. Indústria 4.0, diversidade e sustentabilidade são alguns dos conceitos-chave nesse novo mundo.
Uma boa notícia, de acordo com o consultor financeiro Teco Medina, é que o Brasil parece estar comprometido com a agenda de responsabilidade fiscal e desburocratização necessária à retomada do crescimento. Na avaliação de Medina, se as principais reformas estruturantes propostas para a economia forem aprovadas, em breve voltaremos a crescer. Para ele, a reforma da Previdência, em tramitação no Congresso, é considerada a mais importante, já que colaborará significativamente para sanar as contas públicas.
Para investir e atrair investimentos, é preciso zerar o déficit primário, formado, em grande parte, pela Previdência. Não existe país, em 2024, se a reforma não passar”, afirmou, durante sua palestra “O Mercado Brasileiro de Hoje no Futuro”, 14º CBC.
Dispostas a não ficarem à mercê das marés do mercado financeiro, as cooperativas estão se preparando para enfrentar qualquer um dos cenários possíveis para o país. Justamente por isso, o cooperativismo é um dos setores da economia mais qualificados para aproveitar as oportunidades que podem surgir nos próximos anos.
Pode ser que, na próxima década, o Brasil deixe de ser o país do futuro para ser o país do presente. Vocês, cooperativistas, estão muito bem preparados para isso. Não deixem de pegar esse ciclo do começo. Se as coisas derem certo de novo, elas vão dar muito certo. A partir do ano que vem, tem enormes chances de a economia voltar a andar”, afirmou.
Medina falou também sobre a importância de um ambiente de negócios favorável ao empreendedorismo, incluindo suas novas formas. “A gente precisa tornar o Brasil um lugar melhor para se investir. Não existe país em que o governo atrapalhe mais os negócios.
O Brasil precisa decidir se vai ser o país das cooperativas, das fintechs e da inovação, ou o país do pedágio, do ascensorista”, comentou.
UMA NOVA ECONOMIA
Outra boa notícia para as nossas cooperativas: estamos em sintonia com um fenômeno que está mudando as relações econômicas no mundo. A Indústria 4.0 (ou quarta revolução industrial), é um conceito que engloba as novas tecnologias de automação e informação. Isso inclui, por exemplo, as startups, pequenas empresas com modelo inovador de negócios, que muitas vezes impactam a vida de suas comunidades.
A velocidade com que surgem esses novos empreendimentos é um desafio para quem está no mercado. O positivo é que o cooperativismo tem muito em comum com a Indústria 4.0. “Nada está sendo como antes, pois a velocidade de transformação está muito alta. A cada instante, está surgindo um novo negócio que pode acabar com nosso negócio. Há uma nova lógica de consumo, que envolve menos comprar para ter posse, e mais para ter acesso. Com o Uber, por exemplo, não preciso ter um carro na garagem para me locomover. Basta ter acesso ao carro”, explica Andréa Dietrich, empreendedora e consultora de estratégia digital.
Andréa, que presta consultoria tanto para startups quanto para grandes companhias, também esteve no CBC falando sobre “A Marca na Indústria 4.0”, ressaltando que, em um cenário de competição acirrada – no qual a tecnologia eleva a qualidade a um novo patamar –, o grande diferencial pode ser o propósito da empresa, bem como a experiência oferecida aos clientes.
Transparência, visão das necessidades do consumidor e impacto social agregam valor à marca. “O que diferencia uma empresa de outra é como você vai colocar sua ideia em prática. Tudo isso é muito alinhado com o cooperativismo. A marca 4.0 é pautada pela experiência que deixa na vida das pessoas. A marca do futuro é construída sobre três pilares fundamentais: propósito, empatia e coragem. A causa por trás é que vai fazer a diferença, e o cooperativismo tem isso muito forte.”
DIVERSIDADE
O respeito à diversidade e a inclusão de todas as pessoas também são diferenciais importantes no mercado 4.0, tornando qualquer negócio mais oxigenado e competitivo. Nesse quesito, mais uma vez, as cooperativas saem na frente. “O conceito de diversidade engloba aceitação e respeito. Significa entender que cada indivíduo é único e reconhecer nossas diferenças individuais.
Vivemos um momento de polarização e, ao mesmo tempo, de grande expressão social, com as ditas minorias se posicionando”, afirma o psicólogo Djalma Scartezini, que tem MBA em Recursos Humanos pela Fundação Getulio Vargas (FGV) e também esteve no 14º CBC, falando sobre “A Diversidade como Diferencial Competitivo.”
Ele destaca que, para se comunicar, a empresa precisa compreender a sociedade. “O negócio é atrair pessoas”. O psicólogo explica, ainda, que um grupo pouco diverso de colaboradores no interior das empresas fornece um número igualmente limitado de soluções. Além disso, ressalta que, para funcionar, a diversidade precisa ser uma política efetiva, para além do marketing.
A diversidade de pensamento é que vai trazer para a organização um diferencial competitivo. Parecer ser diverso é fácil. A gente contrata alguém para fazer uma campanha de marketing. O marketing é o papel embrulhando o presente. Não adianta desembrulhar e não ter nada dentro”, diz. Para Djalma, o cooperativismo tem a semente da diversidade na gestão coletiva. “Todo mundo é dono [do negócio]. A gente [mercado] quer esse valor que já existe no cooperativismo, que é a decisão coletiva. Assim, teremos mais engajamento e produtividade”, afirma.
FONTES RENOVÁVEIS
Em franca expansão e alinhado com a nova economia, o setor de energia sustentável vai gerar muitas oportunidades de negócios nos próximos anos e, por isso, precisa estar no radar das cooperativas. Quem garante é Filipe Braga Ivo, especialista em tecnologia, empreendedorismo e diretor de novos negócios da Sunew, empresa líder mundial na fabricação de filmes fotovoltaicos orgânicos (OPV, um filme gerador de energia solar com design flexível e inteiramente orgânico).
Em sua palestra sobre “O Potencial Brasileiro na Energia Renovável”, durante o CBC, Braga Ivo ressaltou que fontes de geração de energia, como petróleo e carvão, vão perder cada vez mais espaço, não apenas por serem fontes esgotáveis, mas devido ao dano ambiental que causam.
O consumo de carvão chegou a um pico em 2015 e, desde então, a tendência é de queda. O especialista diz que o mesmo deve ocorrer com o petróleo, muito antes de as reservas se esgotarem.
A transição energética está acontecendo, não interessa se vemos o copo meio cheio, ou meio vazio”, resume. Os substitutos ao modelo atual já estão entrando em ação. A geração de energia solar já é a que mais cresce no mundo. A produção de energia eólica também sobe a um ritmo acelerado. Os custos de produção de ambas vêm caindo vertiginosamente. A eletrificação dos carros também já é uma realidade. “As montadoras têm previsão de eletrificar as frotas”, diz Felipe. As cooperativas também aderiram à revolução energético.
GERANDO A PRÓPRIA ENERGIA
Marco Olívio Morato, analista técnico e econômico do Sistema OCB, explica que, somente no Ramo Infraestrutura, há 76 cooperativas gerando energia. Dessas, nove atuam no chamado sistema de compensação – ou seja, geram energia para consumo próprio e, com isso, pagam mais barato na conta de luz. As demais produzem energia para venda. Além disso, há 159 cooperativas de outros ramos gerando a própria energia no sistema de compensação.
A maior parte é formada por Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs). Mas há também geração a partir de biomassa, fotovoltaica e uma cooperativa geradora de energia eólica. Com 22 cooperados, a Cooperativa Brasileira de Energia Renovável (Coober), de Paragominas (PA), é uma das que geram energia com placas solares no sistema de compensação. “A energia gerada é injetada nas redes de distribuição e compensada na conta de luz, que tem um desconto de 60% para os cooperados.
Hoje, eles geram 9 mil Kw/h por mês, o equivalente ao abastecimento de 50 famílias de quatro pessoas”, explica Morato.
VALORIZAÇÃO
Os cooperativistas contam ainda com a promessa de fortalecimento e interlocução por parte do novo governo. Segundo o secretário de Agricultura Familiar e Cooperativismo do Ministério da Agricultura, Fernando Schwanke, a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, quer valorizar o setor.
Estamos preparando programas importantes de acesso tanto a mercados institucionais quanto privados, em âmbitos nacional e internacional”, afirmou.
Segundo Shwanke, o governo está elaborando suas políticas com base no documento Brasil
Mais Cooperativo, da Organização das Cooperativas do Brasil (OCB). “A ideia é ter cooperativas irmãs, com troca de boas práticas (veja matéria da página 44)”.
Outra novidade é que, a partir de 1º de julho, as cooperativas de crédito poderão receber depósitos da poupança rural. O anúncio foi feito pelo chefe do Departamento de Supervisão de Cooperativas e de Instituições Bancárias do Banco Central, Harold Espínola.
As políticas voltadas para o cooperativismo também serão desenvolvidas no âmbito da Secretaria de Inclusão Social e Produtiva Urbana (Senisp), vinculada ao Ministério da Cidadania. A secretaria deve atuar em três eixos: intermediação de mão de obra, qualificação e empreendedorismo – contando com 644 parceiros, entre instituições públicas e privadas. A Senisp reúne as antigas Secretaria de Inclusão Produtiva, do extinto Ministério do Desenvolvimento Social (MDS), e Secretaria Nacional de Economia Solidária, do extinto Ministério do Trabalho.

OCB

 

Redação

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