GERAL

Mercado de trabalho reflete desigualdades de gênero

A quase totalidade (92,6%) da população brasileira feminina de 14 anos ou mais, que representa mais de 80 milhões de pessoas, realiza afazeres domésticos e cuidados de pessoas, em uma média de 21 horas semanais, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), referente ao quarto trimestre de 2018.
Essas atividades são categorizadas pela pesquisa como “Outras formas de trabalho”, e são essenciais para a reprodução social da vida, como explica Eleutéria Amora, da organização social Casa da Mulher Trabalhadora (Camtra). “Se as mulheres cozinham para alguém que vai trabalhar, se levam uma criança para escola, que às vezes nem é seu filho, para alguém poder trabalhar, elas estão envolvidas nesse emaranhado de sustentação da sociedade”, exemplifica.
Mesmo depois da entrada no mercado de trabalho, ainda é muito comum na vida das mulheres o que ficou conhecido como dupla jornada: o emprego formal adicionado à rotina de cuidados e afazeres domésticos.
O fenômeno da dupla jornada é considerado um impedimento ao aumento da participação feminina na força de trabalho. Em 2018 a taxa de participação delas ainda era quase 20% inferior à dos homens (52,7% no 4º trimestre de 2018 contra 71,5% deles).
Segundo a coordenadora de População e Indicadores Sociais do IBGE, Bárbara Cobo, ou acontece a dupla função, ou a trabalhadora em geral acaba empregando outra mulher que a substitui em casa: “muitas vezes gastando todo o salário pra contratar alguém que faça o serviço”.
Profissões designadas por ou para mulheres
Os papéis sociais vistos como femininos ou masculinos ainda influenciam bastante as escolhas de profissões e as desigualdades salariais. Como principal exemplo, o trabalho doméstico remunerado é uma das ocupações que possuem maior incidência de mulheres no Brasil. Segundo a PNAD Contínua, das mais de 6,2 milhões de pessoas empregadas como trabalhadores domésticos, 4,5 milhões (94,1%) são mulheres.
A maior parte dos trabalhadores domésticos ainda trabalha sem carteira assinada e recebe, em média, R$740,00, valor abaixo do salário mínimo nacional, de R$998,00. Já a média salarial do trabalho com carteira assinada sobe para R$1.245,00. O salário também varia quando se faz o recorte por gênero: enquanto a média salarial dos 280 mil homens que desempenhavam a função de trabalhador doméstico foi de R$1.019,61 no último trimestre de 2018, a das mulheres ficou em R$846,12.
As diferenças se explicam em parte pela quantidade de horas trabalhadas. As diaristas, por exemplo, podem montar um esquema de horários com diferentes contratos, trabalhando em mais de uma residência. Nesse arranjo, as mulheres costumam trabalhar menos de 40 horas semanais, muitas vezes para conciliar com os afazeres domésticos em sua própria casa. No último trimestre de 2018, a média semanal de horas trabalhadas pelas domésticas era de 31 horas, enquanto a dos homens, de 42.
O papel da emoção nas questões de gênero
Na área de cuidados de pessoas, a distribuição dos ocupados pende mais para o lado das mulheres, principalmente entre babás, com 96,4% de participação feminina. Na educação, quanto mais jovem o segmento, maior é a proporção. As educadoras infantis mulheres são quase a totalidade do setor (97,3%).
Segundo Barbara Cobo, “A ideia é que a mulher ‘nasceu para’ ser mãe, ‘nasceu para’ cuidar. Então, ela acaba sendo condicionada a atender essas expectativas que, na realidade, são difíceis de serem quebradas”.
Maria Claudia Coelho, antropóloga e professora do Instituto de Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), complementa a ideia: “No ocidente moderno a emoção é vista negativamente como o espaço do descontrole e do feminino, enquanto que a razão estaria associada ao controle e ao masculino. Porém, a valoração se inverte quando a emoção, associada ao feminino, agora é positiva porque fala da capacidade de empatia, de compreensão, de solidariedade, atributos que estariam ausentes ou em menor escala no masculino”.

IBGE

 

Redação

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