MARKETING E COMUNICAÇÃO

Cuidados ao passar e receber um briefing (2)

 

 

Durante a II Guerra Mundial, quando os oficiais da RAF/Força Aérea Real Inglesa reuniam-se com os pilotos, a fim de orientar uma missão, passavam um briefing, ou seja, um dever a ser cumprido. Cada piloto recebia as informações sobre a importância e a localização dos alvos a serem atingidos. O vocábulo, que nasceu no ambiente militar, migrou para o ambiente publicitário e a ele ficou restrito por vários anos. Era chique dizer: “Vou passar um briefing.” Chique, porém nem sempre eficiente. São notórias as interpretações erradas nas conversas entre agências e clientes, com consequências que vão da perda de tempo e energia até de dinheiro e de contas.
Com o tempo, a palavra migrou para outras profissões e passou a ser usada pelo pessoal de TI, WEB, design, arquitetura, jornalistas, laboratórios, fábricas e escolas. De tanto observar as dificuldades que algumas pessoas têm com o assunto, solicitei a amigos – profissionais experientes de diversas áreas – que me contassem suas experiências e opiniões. Reparto aqui algumas das dicas passadas por eles:
O briefing-petição
 
Fuja do “briefing-petição” – aquele que vem no formato de um simples pedido e se expressa na linguagem protocolar das licitações. É o tipo de solicitação que detalha todas as especificações do projeto e tenta definir os passos que o executor deverá seguir. Este tipo de pedido engessa de imediato o trabalho, inibindo a criatividade e, em consequência a inovação. Isso costuma resultar em trabalhos mal pensados, malfeitos e quase sem apelo. Aquele que solicitou a tarefa, ao passá-la burocraticamente para o outro, acredita que cumpriu seu papel e se livrou do problema. Passou o trabalho e não colaborou em nada para o seu desenvolvimento criativo. Ambientes certinhos que só sabem seguir processos e regras formatadas funcionam assim. No jargão publicitário, quando se quer falar mal do trabalho de um concorrente, se diz: “colocou o briefing no ar”.
Quem vai fazer o trabalho deve orientar todo o processo e as ferramentas que vai utilizar – o que pode e o que não pode ser feito.
 
Lembre-se de que quem pede um briefing geralmente não conhece todas as ferramentas que podem ser usadas na aplicação da peça criativa. Cabe àquele que pega a incumbência orientar o solicitante sobre todas as possibilidades da sua aplicação à peça a ser criada – seja anúncio, documentário, site, blog ou a formulação de trabalho em indústria.
Grave a conversa e faça anotações precisas
Se puder, grave a reunião. E se conseguir levar um assistente para ajudar a anotar, melhor. Um bom parceiro ajuda a pensar e a equalizar o trabalho. Ele pode enxergar aquilo que não enxergamos.
Faça muitas perguntas – as idiotas e impertinentes são as melhores
 
O profissional que conduzirá a tarefa deve prestar muita atenção à fala daqueles que a encomendam. Seja investigativo, provoque e pergunte e questione sobre tudo, nem que seja preciso, algumas vezes, fazer o papel de advogado do diabo, discordando do cliente. O bom tomador de pedidos é hábil nas perguntas impertinentes e idiotas, pois sabe que elas abrem possibilidades aos caminhos mais criativos e esclarecem as dúvidas escondidas.
Não oculte nada. Colabore com quem vai trabalhar com e para você
 
Na elaboração do pedido, o cliente não deve esconder nada. Deve dizer tudo o que precisa ser dito – até mesmo apontar os possíveis defeitos, imperfeições e as suas percepções sobre prováveis problemas futuros. O perguntador deverá saber conduzir a conversa por meio de rascunhos, desenhos e gráficos e precisa ser bom na elaboração de metáforas. Uma boa analogia – do tipo “é como se fosse assim” – ajuda os dois lados a se entenderem melhor.
Trabalhem juntos no desenvolver do processo
Um bom sistema é construir o trabalho em conjunto. Por meio de reuniões, revisões e conversas, inclusive as informais, vai-se construindo uma linha de pensamento. Com o tempo, o discurso ganha consistência e tudo fica mais fácil. Só assim nos livramos do dissabor de ouvir, na entrega do trabalho: “Não era nada disso que eu queria.” A culpa de um briefing mal feito é sempre de quem o recebe; por isso, se precisar, negocie mais tempo e retorne à investigação. É melhor arrumar o andamento do trabalho no meio do caminho do que refazê-lo. Dar feedback informando o passo-a-passo da jornada é prova de profissionalismo.
Tipos de solicitantes – clientes
As dificuldades do briefing estão relacionadas ao tipo de cliente. Alguns dos perfis mais comuns são:
  • O prolixo: aquele que só fala, fala e não sintetiza o que deseja.
  • O indeciso: aquele que tem dificuldade em verbalizar o que necessita.
  • O político: esse é um dos mais complicados. É aquele que, para agradar aos superiores e parceiros, se compromete com todos. Fala em nome de terceiros, não toma decisões e prejudica o andamento dos trabalhos.
  • O mandão: é aquele que já vai dizendo: “Faça do jeito que estou mandando e estamos conversados.” Ou ele entende muito do assunto ou apenas gosta de mandar. No primeiro caso, é o cliente mais tranquilo para se trabalhar, pois dá segurança e se responsabiliza pelos resultados. Mas se apenas gosta de mandar e não entende do assunto é muito difícil trabalhar com ele. O criativo nestes casos sofre porque acaba por realizar um trabalho a contragosto – sabendo, de antemão, que os resultados podem ser desastrosos de antemão.
O sucesso de qualquer trabalho depende da boa relação e do profissionalismo entre as partes; das perguntas e das orientações que fazem entre si. Afinal, marketing está mais na área das perguntas do que das respostas.

 

eloizanetti@gmail.com

 

 

Redação

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